terça-feira, 27 de abril de 2010

O TROCO


O troco foi me dado errado, percebi atrasado, e quando revindiquei meu dinheiro fui indagado!
quem foi? ela me perguntou.
Olhando os empregados disse, foi o rapaz preto, até porque todos estavam de vermelho, tinha o baixinho, o gordo, o quatro olhos, o caolho, o careca, o alemão, mas tinha sido o preto.
Quando essa palavra saiu de minha boca, veio um ressentimento sem sentido, mas sentido por quem estava do meu lado, olhares ressabiados, como assim preto?? foi essa pergunta que ninguém fez, mas para mim respondi, pois me senti na pele de um cara mal informado.
Preto é sua cor e sempre será, na caixa de Giz de cera ou lápis coloridos, canetinhas, sprays, são todos "de cor", e podem procurar, não existe a cor "negra", muito menos a cor moreninha, e não foi pela sua cor que o troco veio errado, foi pela desatenção, será que chamá-lo de desatento seria mais delicado? e nem foi por isso que fiquei desconcertado, fiquei sendo analisado, me fez sentir estranho, me senti errado, um pouco acoado, mesmo achando que não havia me enganado, nem sido preconceituoso ou coisa do tipo, afinal, preto é apenas uma cor, a cor de um semelhante.
A cor negra não existe, afro decendente? piada né?!, somos humanos!!! viemos do mesmo lugar, temos o mesmo passado e todos numa época remota tínhamos mais pêlos, andávamos de quatro, tínhamos rabo, viemos da mesma costela, do mesmo cosmo, do mesmo sangue.
Chamar alguém de careca, gordo, preto, alto, baixo, vermelho, branco, olho rasgado, dá no mesmo, não deveria ter tanta importância, me senti do lado avesso mesmo não tendo nenhum tipo de preconceito, esse exesso de lucidez ainda me deixa louco!

Douglas Campigotto