sábado, 23 de março de 2013

ASSIM SOU



Sofro feio, me apego ao medo, peço arrego
Provoco a ferida que custa curar, 
Mas que não precisa de cura, nem surra
Esquento de frio, choro de calor, peço perdão sem dever, corro parado
Dôo quando não tenho, me abstenho de mim
Digo sim dizendo não, imploro esmola, engulo sem comer, me esforço pra vomitar
Respiro de tanto chorar, prendo meu paladar, fecho os olhos pra ver
Entrego um terço, rezo sem acreditar, entro de quatro
Faço juras descabidas que já não cabem
Rabisco num traço, aponto sem dedo, mergulho no raso, nado no seco
Fumo sem saber, bebo pra secar, caio pra sacudir
Aumento meu passo, me apego ao desapego, prendo pra amar
Amo de pirraça, insisto na desgraça, peço fiado mesmo sendo de graça
Sofro sem desespero, devoro sem mastigar, leio sem ver, escuto de tanto falar
Me perco pra me achar, grito sem voz, 
Tomo o que não é meu, feliz de tão triste, choro pra arriscar,
Preciso do espaço, entrego descalço, tiro meu calço só pra me sacanear
Navego sem saber nadar, bóio nas nuvens, borro pra desenhar, respiro água
Me ponho a prova sem estudar, me trago, ardo sem queimar
Trabalho meu ócio, me encaro no parto, endireito de tanto entortar 
Posso ter medo de ir, mas não de como consegui chegar
Sou assim, de confiar idéias, de contar estrelas...

Douglas Campigotto