segunda-feira, 25 de março de 2013

CAMINHOS


A caminhada é tão solitária, então valorizo quando as estradas se encontram, quando os atalhos se cruzam, porque eu não sei onde a estrada vai dar e é tão bom caminhar lado a lado.

Douglas Campigotto

sábado, 23 de março de 2013

ASSIM SOU



Sofro feio, me apego ao medo, peço arrego
Provoco a ferida que custa curar, 
Mas que não precisa de cura, nem surra
Esquento de frio, choro de calor, peço perdão sem dever, corro parado
Dôo quando não tenho, me abstenho de mim
Digo sim dizendo não, imploro esmola, engulo sem comer, me esforço pra vomitar
Respiro de tanto chorar, prendo meu paladar, fecho os olhos pra ver
Entrego um terço, rezo sem acreditar, entro de quatro
Faço juras descabidas que já não cabem
Rabisco num traço, aponto sem dedo, mergulho no raso, nado no seco
Fumo sem saber, bebo pra secar, caio pra sacudir
Aumento meu passo, me apego ao desapego, prendo pra amar
Amo de pirraça, insisto na desgraça, peço fiado mesmo sendo de graça
Sofro sem desespero, devoro sem mastigar, leio sem ver, escuto de tanto falar
Me perco pra me achar, grito sem voz, 
Tomo o que não é meu, feliz de tão triste, choro pra arriscar,
Preciso do espaço, entrego descalço, tiro meu calço só pra me sacanear
Navego sem saber nadar, bóio nas nuvens, borro pra desenhar, respiro água
Me ponho a prova sem estudar, me trago, ardo sem queimar
Trabalho meu ócio, me encaro no parto, endireito de tanto entortar 
Posso ter medo de ir, mas não de como consegui chegar
Sou assim, de confiar idéias, de contar estrelas...

Douglas Campigotto

segunda-feira, 18 de março de 2013

1, 2, 3, TERÇOS.


Vejo a vida pelo terço inverso do avesso me desconheço pra me encontrar 
De salto alto te pego de assalto e tiro do pedestal.
Tão logo eu te vejo. 
Eu rezo pelo avesso pra poder te reencontrar. 
Um salto tão alto tenho que dar pra me conhecer ao menos um terço.
Sem reza nem berço subo num pedestal pra te achar. 
Mesmo do avesso. 
Um ou dois terços. 
Aguardo inteiro. 
Aquela não desconheço. 
Vida inversa de salto alto pronta p rezar.
Um, dois ou  três terços.

Douglas Campigotto

domingo, 3 de março de 2013

VIDA VÍVIDA


‎...a chuva que não para de chuviscar, os boêmios, velhos, jovens e bêbados se misturando nos botecos onde ainda são vendidas garrafas, os amigos que discutem sobre política, economia e nacionalismo com seus big macs em punho em frente a um Mcdonalds, as pessoas se misturam embaixo das marquises por falta de transporte, pessoas e mais pessoas, finalmente todos na mesma classe de uma nação que pede socorro, deitadas sobre papelão, outrora colchão, um cachorro passa por mim, corre desesperado procurando algo, alguém, ele acha, seu humano de estimação, um mendigo paraplégico que se locomove com o auxílio de um skate, impressionante como corria e procurava debaixo da chuva molhada, nada o importava mais que sua dupla e então eu entendo o amor, não agora, mas eu entendi, quantos passam sem entender nada, vi minha vida privilegiada sem privilégios, numa conexão sincera, tenho orgulho de conseguir enxergar com tantos chuviscos, a chuva aumenta, dois caras me seguem, ou não, na dúvida aperto o passo, passa um garoto e sua mãe o acompanha, ele está de muleta, me faz lembrar aquele cachorro, quanta potência, penso nos guerreiros que lotam seus carrinhos com latas e tão injustiçados por atrapalharem o trânsito ou rasgarem nossos preciosos sacos de lixo, deixando pra trás na nossa frente, toda aquela fortuna dispensada por onde passam, e a chuva não para...

Douglas Campigotto

VONTADE QUE VEM QUE VAI



...a vontade veio
deixei passar
a vontade passou
estávamos desarmados
não deu pra matar
e eu sou de deixar
até porque
a vontade vai
e vem
até pra quem 
não sabe esperar
não tenha pena
um dia passaremos juntos...

Douglas Campigotto