Trago luzes Leio letras Vejo coisas Tento teias na volta da curva uma palavra reta que entorta feito luva que cai mas não bate na porta dos navios que aportam enquanto esperam na fila de quem precisa meus lábios tremem e a traquéia aperta sem deixar passar o ar esperando o coração parar mas ele bate de frente e forte pelos laços que importam que não desatam com atos nem fatos nem artefatos laços apertados feito cadarço feito nó duplo no tênis sujo que a gente gosta de usar que não deixa lavar que faz com que tudo seja tudo agora As luvas Os fatos Os duplos Os laços Douglas Campigotto
acordei com sensação de ninguém não sabia ao certo porque levantar da cama se saía se comia se tirava o pijama medo de abrir os olhos de não enxergar adoro telefonar de olhos fechados falo até esquentar as orelhas amo limpar gavetas procuro sabendo que não vou encontrar ando de um lado pro outro como quem acha na minha cabeça nada passa só um pensamento solitário um filme que teima em reprisar e agora na hora de dormir não sei se quero deitar medo de não acordar de não levantar continuo cultivando antigos hábitos mantendo meus olhos bem fechados Douglas Campigotto
Hoje fui um frentista, sendo mecânico, eu mesmo, sendo artista, jogador, ator, atordoado com a crise que paira, que não pára, inflação que inflaciona o preço daquilo que já não podia pagar, gasolina tá cara pra quem tem carro, preço alto que se paga pra quem decide andar, pedalar, de mãos atadas, braços arrancados, seguimos sem saber o dia de amanhã e isso é enlouquecedor, quem será o próximo preso, o próximo avião que cairá, se o samu vai chegar e quem vai levar, penso nos diferentes pesos e logo peso, hoje eu fui um artista, sendo frentista... Douglas Campigotto
ouço as louças e talheres nas casas vizinhas elas falam de comida e outras coisas misturadas aos televisores que nem sempre funcionam por falta de luz todos deixam as janelas abertas mas observam de suas redes pássaros engaiolados no telhado que bate na janela aos retalhos do vento farto do inverno que não espanta os gatos que passeiam em seu reinado entre fezes e corajosos ratos caem papagaios decepados no ar caçados feito mosquito que vôa feito mosca que trás cor aonde cai a caixa d'agua que aborta por dobras tortas voam mesas janelas e portas plutão se aproxima a lua enciumada nos olha de cima pronta pra minguar parece perceber o filho da vizinha que chora sem hora para parar será pelo planeta por sua história ou pelo som ensurdecedor da água que jorra Douglas Campigotto
perdi um poema se tornou impossível encontrá-lo resgata-lo não que ele precisasse de salvação eu sim esqueci de salvar procurei incesantemente mas não achei não sabia do estava falando como achar aquilo que não se sabe difícil saber eram palavras nem tão bonitas que juntas diziam algo que eu passei pensei coisas que vi e que nem sempre agradam agora me vejo procurando esse poema sem nome sem pontuação lembro de uma parte que dizia "vejo grama nas paredes cabeças sem corpo sapatos brancos de talco" que me faz lembrar de festa dança bebê assadura farinha cocaína bucha pino frango e por aí vai palavras que nos levam a outras outros lugares poemas amigos amores fatos mais um poema que poderia ser mas são só palavras ditas a esmo bonitas palavras nem tanto se atropelando se fazendo entender se entregando de bandeja no peixe na grelha na farra no olho na alma na faca no ato na palavra Douglas Campigotto