quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A MORTE DO BALÃO



No meio do mato vi um balão, aparentemente agonizando, o vi de longe, preso na vegetação nativa. De onde veio, como subiu, como nasceu?
Percebi que ele estava longe de casa, pensei em ajuda-lo, suas forças estavam quase esgotadas, no sopro do vento que ventava ele ainda tinha forças para tentar voar, mas, suas extremidades estavam presas.

Quantas alegrias haveria presenciado esse nobre balão? Ou seriam tristezas? Nunca entendi balões que gostam de tragédia, mas procuro entender os tristes. Existem os que gostam de velórios, algo excêntrico num primeiro momento, porém, se olharmos do ponto de vista do balão, pode ser apenas mais um evento de praxe para cumprir tabela, por essa ótica vemos um nobre balão.
Os balões da natividade, sempre celebrando a chegada de mais um. Os balões felizes, tão comuns aos nossos olhos que passam despercebidos pelas nossas alegrias. Balões coloridos, sempre ricos, enriquecendo quem os vê. Balões boêmios, balões festeiros, balões arruaceiros.

Todo balão é altruísta!

Eles sabem que a viagem é só de ida, poucos voltam... a vida de balão é cruel, é intensa, é viver cada instante como se fosse o último, é andar na corda bamba, são mais corajosos que qualquer equilibrista, balões andam sempre no fio da navalha.
Será que as trajetórias dos balões são pré determinadas? Balão vidente?? O estouro do balão será fim, começo ou ápice? Do contrário que sempre imaginei, sim já chorei por balões, o estouro me parecia algo ruim, parecia que o balão sofria, que era o fim, mas era multiplicação, viravam dezenas de mini balões, que esfregados contra os dentes, viravam uma sinfonia de arrepiar (literalmente), hoje penso no estouro como celebração! Balão é emoção, é paz, é luto, é tudo. Balão infinito, balão estrela.

Será que esse era de alguma criança que agora chora por que ele que não retorna? Ver aquele balão ali, ainda com gás, pronto e preparado para viver, me fez lembrar de mim, de tantos que conheço, pessoas, balões, desgovernados, obstinados a subir, lembram do padre e seus balões? Que balões sacanas aqueles, os verdadeiros kamikaze, corajosos, sonhadores, coloridos balões.
Penso que gostaria de ter conhecido este balão em particular, imaginei suas histórias, pelo jeito nunca havia sido beijado, sim, balões são exímios beijoqueiros. Balões casamenteiros.

A vida de balão é assim, nascer, apaixonar, morrer.

Ele era um balão de gás, nascido para o entretenimento, balão vaidoso. Com suas cores laminadas, um lado prata, no outro ouro, será um balão cheio de empáfia?
Balão nobre ou nobre balão? Falo como se o conhecesse, posso ver sua escolha escancarada, ser o mais bravo dos balões, não existe outra explicação, ou será um balão apostador? Desbravador? Balão cigano.
Como veio parar aqui, na beira da praia, nesse paraíso ermo onde poucos vem buscar a si mesmos, seria um balão tentando se encontrar? Ou veio ao meu encontro pra me lembrar de ser?
Entendi que ele estava onde queria estar, onde era para estar, onde lutou para chegar, balão conquistador, bravo balão!

Que sejamos mais e melhores. Sejamos balonistas de nós mesmos.

Muito prazer, obrigado balão.


Douglas Campigotto