terça-feira, 27 de outubro de 2015

PELADO ESPERO


...sentado na cadeira, com a barriga cheia, que protubera por cima do meu sexo, que esconde meus pentelhos, percebo que só tenho ela, barriga e cadeira, então me faço satisfeito, porém, se convidasse alguém para minha casa, onde esse alguém sentaria? como faria, eu ficaria, em pé? sentado, onde? na cama, na janela, na pia? na mesa, falta de educação seria? até porque estou pelado, apesar de não estar no aguardo, mas se estivesse, se esse fosse compromisso do dia, o que faria, antes me vestiria, apagaria o baseado que já está apagado, acendo, levanto, escovo os dentes ou uso listerine, vou me olhar no espelho, cacete, estou pelado, de pau duro inclusive, será que me masturbo? masturbar as vezes acalma, logo após a ofegancia que precede o gozo, que me faz pensar... ofegancia, essa palavra existe, deve existir, ou no mínimo estar no secto daquelas palavras que não existem mas deveriam, assim como aquelas que existem mas não podem ser tocadas, como a saudade, como o wifi, como será que seria o wifi? primo do wireless, irmão? será que eles tem sentimento, mesmo sem existir, será que a saudade tem sentimento, será ao menos que ela quer dizer isso, vai que a gente deu o nome do ódio de saudade, será que por isso a sentimos com tanto pesar, com tanta força, me fez pensar de verdade nessa possibilidade, o bluetooth deve ser um parente distante... mas, voltando ao raciocínio ilógico, estou pelado, com um baseado apagado pronto para ser aceso, um espelho, todo o aparato de higiene pessoal a postos, e... caramba, acabei de perceber que a porta de entrada não está chaveada, e se, esse alguém que não está vindo, mas poderia estar, decidir simplismente colocar a mão na maçaneta e abrir deliberadamente a porta pela confiança que tem, nos anos que temos de amizade, bom, seria natural, ou deveria ser, porque eu sempre estou pelado e a grande maioria dos meus amigos e amigas já me viram pelado, não sei se viram, mas sei que passei pelado pela frente deles, e passo sempre que posso, sempre, foi assim que nasci, assim que sou, também não sou nenhum retardado de sair pelado pelas ruas... taí, retardado, se eu fosse retardado, talvez tivesse acertado em várias escolhas erradas que fiz, por não ser, talvez não tivesse uma fala tão preconceituosa dentro do meu discurso, retardado... ninguém nunca pensou o que quer dizer a palavra retardado, nem o médico que inventou essa palavra que hoje é usada a esmo, os retardados são legais, acredite em mim, melhor que muita gente que se diz normal, tenha medo das pessoas normais, digo, normais normais, sem nenhum ruído, pessoas perfeitinhas me metem medo, eu tenho pelo menos, fiquei confuso, acendi o baseado... parece que vi alguém mexer na porta, a chave parece que balança... será que é o cara da tv a cabo, minha sócia para reunião, a vizinha pedindo açúcar, tô entrando em parafuso, será que é assim que os retardados se sentem? é rico, muito rico, a mente sendo explorada, mas, e se, da porta pra fora não passar? é algo a se pensar, e se eu olhar lá pra fora e enxergar aqui dentro... já sei, continuo imóvel, bom, nem tanto, vou fazer um chá, o sol parece que não saiu lá fora, melhor ficar por aqui, até alguém decidir chegar...

DOUGLAS CAMPIGOTTO

INÍCIO



Sou idiota por opção e necessidade...
Resta saber aquilo que você entende como idiota.

Douglas Campigotto