Percebi que ele estava longe de casa, pensei em ajuda-lo,
suas forças estavam quase esgotadas, no sopro do vento que ventava ele ainda
tinha forças para tentar voar, mas, suas extremidades estavam presas.
Quantas alegrias haveria presenciado esse nobre balão? Ou
seriam tristezas? Nunca entendi balões que gostam de tragédia, mas procuro
entender os tristes. Existem os que gostam de velórios, algo excêntrico num
primeiro momento, porém, se olharmos do ponto de vista do balão, pode ser
apenas mais um evento de praxe para cumprir tabela, por essa ótica vemos um
nobre balão.
Os balões da natividade, sempre celebrando a chegada de mais
um. Os balões felizes, tão comuns aos nossos olhos que passam despercebidos
pelas nossas alegrias. Balões coloridos, sempre ricos, enriquecendo quem os vê.
Balões boêmios, balões festeiros, balões arruaceiros.
Todo balão é altruísta!
Eles sabem que a viagem é só de ida, poucos voltam... a vida
de balão é cruel, é intensa, é viver cada instante como se fosse o último, é
andar na corda bamba, são mais corajosos que qualquer equilibrista, balões
andam sempre no fio da navalha.
Será que as trajetórias dos balões são pré determinadas?
Balão vidente?? O estouro do balão será fim, começo ou ápice? Do contrário que
sempre imaginei, sim já chorei por balões, o estouro me parecia algo ruim,
parecia que o balão sofria, que era o fim, mas era multiplicação, viravam
dezenas de mini balões, que esfregados contra os dentes, viravam uma sinfonia
de arrepiar (literalmente), hoje penso no estouro como celebração! Balão é
emoção, é paz, é luto, é tudo. Balão infinito, balão estrela.
Será que esse era de alguma criança que agora chora por que ele
que não retorna? Ver aquele balão ali, ainda com gás, pronto e preparado para
viver, me fez lembrar de mim, de tantos que conheço, pessoas, balões,
desgovernados, obstinados a subir, lembram do padre e seus balões? Que balões
sacanas aqueles, os verdadeiros kamikaze,
corajosos, sonhadores, coloridos balões.
Penso que gostaria de ter conhecido este balão em
particular, imaginei suas histórias, pelo jeito nunca havia sido beijado, sim,
balões são exímios beijoqueiros. Balões casamenteiros.
A vida de balão é assim, nascer, apaixonar, morrer.
Ele era um balão de gás, nascido para o entretenimento,
balão vaidoso. Com suas cores laminadas, um lado prata, no outro ouro, será um
balão cheio de empáfia?
Balão nobre ou nobre balão? Falo como se o conhecesse, posso
ver sua escolha escancarada, ser o mais bravo dos balões, não existe outra
explicação, ou será um balão apostador? Desbravador? Balão cigano.
Como veio parar aqui, na beira da praia, nesse paraíso ermo
onde poucos vem buscar a si mesmos, seria um balão tentando se encontrar? Ou
veio ao meu encontro pra me lembrar de ser?
Entendi que ele estava onde queria estar, onde era para
estar, onde lutou para chegar, balão conquistador, bravo balão!
Que sejamos mais e melhores. Sejamos balonistas de nós
mesmos.
Muito prazer, obrigado balão.
Douglas Campigotto
Nenhum comentário:
Postar um comentário